O tema da linguagem neutra vem tomando mais visibilidade. Mas você sabe como usar uma linguagem mais inclusiva e por que esse debate vem ganhando visibilidade?  

A língua portuguesa é organizada em um sistema binário de nomeação. Isso quer dizer que sempre precisamos aplicar um gênero e um artigo antes das  palavras, principalmente substantivos. Um exemplo é: o professor, a professora. No entanto, também temos nomes terminados em e, mas que mesmo assim precisa de um artigo, como: a cadeira, a estante. 

 

Assim, é necessário que nós, pessoas jovens que vivemos uma geração sem medo de se afirmar, passemos a entender como a língua funciona para então transformá-la. Para além da língua, também devemos rever como usamos os meios de comunicação, para que seja além de inclusivo e representativo, acessível. 

 

Neste texto quero te apresentar algumas formas de “hackear” a língua portuguesa e poder mudar a forma que falamos. 

 

Da uma olhada nesse vídeo da criadora de conteúdo Luci Gonçalves sobre falar certo ou falar errado. 

 

Além de binária, machista?

Para além de uma estrutura binária, a língua portuguesa também é machista. Se você quiser se referir a uma sala com 15 homens e 25 mulheres, você se referiria como: “os meninos daquela sala são tão bonzinhos”, já que quando vamos falar de algo, a regra da língua obrigada a ser no masculino. Ou, quando falamos sobre algum protesto, falamos “ os professores fizeram uma manifestação hoje”, sendo que certamente, a grande quantidade de pessoas na manifestação eram mulheres. 

 

Então, o primeiro rompimento que podemos fazer com a língua é falar de acordo com a presença das pessoas. Se existem mais mulheres que se entendem com o pronome feminino na sala, então são as mulheres, mesmo que tenham homens. Se estamos conversando com um público misto, o primeiro passo é usar “as e os” para tudo o que estamos falando, por exemplo: “bem-vindos e bem-vindas a Citas.com.br”. 

 

Esse vídeo do criador de conteúdo Jonas Maria fala um pouco mais sobre linguagem neutra. 

 

Uma neutralidade política 

 

Depois, a discussão sobre usar a língua de forma neutra é bem extensa, e tem pontos importantes e pontos questionáveis. No entanto, o que é certo é que a linguagem neutra é nada neutra, e sim uma afirmação política do grupo LGBTQIA + pela sua vida e presença na sociedade. 

No inglês para se referir a pessoas não binárias se usa o they/them, que em português livre - e não neutro - seria o nosso “eles, deles”, mas sem necessariamente dizendo que “eles/deles” se referem ao gênero masculino. Se inglês falamos “they are playing soccer” (eles estão jogando futebol), o “eles” não quer dizer que são meninos, apenas pessoas. 

 

Já no português, tivemos diversas passagens e ainda não há um consenso sobre como utilizá-las, mas existem as boas práticas. A primeira é procurar achar na língua a saída da binariedade, usar palavras como: galera, pessoas, colegas, ajuda a trazer uma neutralidade e está dentro da regra da língua. Mas, pera aí, que regras são essas? Bom, toda língua tem um conjunto de regras, sistematizadas por profissionais da língua há anos, estudadas na universidade e usadas em pesquisas. A gente, na escola, tem contato com a superficialidade desses estudos, através de gramática. E dentro da regra, “pessoas” significa um grupo misto de alguéns e deve levar concordância no gênero feminino.

 

Porém, é possível ir além das regrinhas e ir modificando verdadeiramente a língua que falamos, para que a linguagem neutra não fique sempre neste lugar de diferença, mas possa ser a normalidade. Algumas pessoas passaram a pedir para serem chamadas de “elu/delu”, trazendo a não-binariedade. Isso se expandiu, e hoje temos o “ile/deli”, outra forma de utilizar a neutralidade. Quando falamos no singular, podemos utilizar o “elu/delu”, e quando falamos no plural o “ile/deli”, como em “professories”, ao invés de “professores”. 

 

Assista aqui ao vídeo da Rita von Hunty sobre linguagem não binária para a revista ELLE> 

 

Não pense que qualquer coisa faz som!

A discussão da linguagem neutra sempre tomou a internet. Hoje, muitos perfis indicam quais os pronomes devem ser usados, mas antes dessas questões serem mais difundidas, tínhamos os textos com os “@” e “x”, que iam ao final das palavras que exigiram binariedade. 

 

Quem nunca leu algo como “Queridxs alunes hoje teremos aula às 20h”. Quando lemos, o som do “x” na cabeça não é feito, ou logo vem o “o” no lugar, porque é assim que crescemos ouvindo. E depois, temos a palavra “alunes”, que tenta se adequar a  neutralidade, mas nada combina ou concorda com o “queridxs”. Essa é a salada mista que vamos evitar fazer neste texto. 

 

O som do “@” e “x” não são lidos nos aparelhos auditivos ou visual de pessoas com deficiência, se tornando um recurso sem acessibilidade, que ao tentar resolver uma questão social, reafirma outra. Por isso, muitas pensadoras e pensadories da língua que discutem não binariedade procuram não indicar o uso de outras terminações, que não sejam letras. 

 

Como escrever uma mensagem de whatsapp na linguagem neutra? 

Oiii amore, como você tá? 

 

Meu bem, fiquei sabendo que você passou na faculdade!! Parabéns por mais essa conquista, lindie! Pena que estamos na pandemia né, se não a gente poderia se ver :( Falando nisso, você viu o que aconteceu com Jaime? Elu disse pra mim que foi pra um barzinho ontem e pegou COVID19 :((( puts, isso porque em SP a vacinação da juventude doida será apenas em agosto, osso. 

Enfim, mandando beijinhos, tô super feliz por você amigu. 

Beijassss 

 

Além de linguagem neutra, também montamos um conteúdo sobre outras expressões que fazem parte do nosso vocabulário do dia a dia, mas que também carregam uma trajetória racista e que já passou da hora de tirar do vocabulário!

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