O bairro da Liberdade fica localizado na zona central do município de São Paulo e além disso, está dividido em dois distritos, o da Liberdade e o da Sé. O bairro, fundado em dezembro de 1905, é considerado por abrigar a maior comunidade japonesa fora do Japão.

Origem sombria

Bem antes de ser Liberdade, no século 19, a região se chamava de "Bairro da Pólvora", devido à localização de uma antiga Casa da Pólvora, que ficava no local hoje chamado de Largo da Pólvora.

Nessa época, a região foi palco de muito sofrimento, por ter sido local de execuções por enforcamento.

Uma das teorias para o nome do bairro veio a partir de uma das execuções que mais chamaram à atenção na época, a de um soldado que reclamou à Coroa Portuguesa sobre salários atrasados.

Durante a execução, a corda arrebentou diversas vezes, assim, os executores da pena decidiram prosseguir com a execução.

Isso gerou um clamor popular, com a multidão pedindo pelo fim da crueldade, mas o soldado acabou sendo espancado até a morte.

Enquanto isso, o público presente gritava "Liberdade, liberdade!". Essa execução levou à construção da Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, localizada na atual Praça da Liberdade, erguida em homenagem a esse soldado.

A outra teoria do que teria gerado o nome do bairro é a de que depois do imperador dom Pedro I abdicar do trono, em 7 de abril de 1831, um vereador indicou o nome "Liberdade" para celebrar a data, mas a proposta não foi totalmente aceita.

O nome acabou indo para um chafariz no largo São Francisco, que se popularizou e acabou nomeando a rua, o largo e, consequentemente, o bairro.

Chegada dos japoneses

Os japoneses começaram a chegar ao Brasil em 1908, atendendo às necessidades socioeconômicas das duas nações.

No Brasil, a expansão da cultura cafeeira dependia da imigração para garantir trabalhadores suficientes, devido à diminuição gradual da mão de obra, com o fim da escravidão.

Enquanto isso, no Japão, o crescimento demográfico, êxodo rural e tensões sociais contribuíram para que a emigração fosse uma alternativa para solucionar esses problemas.

Inicialmente, os imigrantes iam com contratos de trabalho para as fazendas de cultivo de café no interior do estado de São Paulo e para Minas Gerais.

Muitos deles deixavam as plantações ao fim desses contratos e retornavam para a capital paulista.

Rua Conde de Sarzedas

Por volta de 1912, os imigrantes japoneses passaram, em grande parte, a residir na rua Conde de Sarzedas, onde haviam sido construídos vários sobrados com porões.

Os quartos nesses porões, no subsolo, tinham aluguéis mais baratos. Com o passar do tempo, os japoneses começaram a desenvolver atividades comerciais nessa rua.

Uma hospedaria, um empório, uma casa que fabricava queijo de soja (tofu) e outra que fabricava um doce japonês, o manju, além de agências de emprego, foram alguns dos negócios feitos inicialmente.

Eventualmente, o logradouro ficou conhecido como “Rua dos Japoneses”. Por localizar-se em uma área central de São Paulo, facilitava a locomoção dos moradores para seus empregos.

Entre 1913 e 1914, o professor Jinshirō Tagashira começou a dar aulas às crianças na sua própria casa. Depois, em 1915, foi fundada a Escola Primária Taisho, onde estudavam os filhos de japoneses.

Contudo, a instituição só recebeu o reconhecimento como instituição de ensino privado pelo estado de São Paulo em 1919. A escola é uma das principais instituições de ensino da cultura japonesa no Brasil.

Enquanto isso, o número de imigrantes japoneses só crescia. Em 1932, pelo menos 2 mil japoneses já viviam na cidade de São Paulo. A presença deles se espalhou por outras ruas da região.

Dificuldades

Houve um período de maior dificuldade para os japoneses no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.

Nesse tempo, o governo brasileiro ordenou a suspensão da publicação de jornais em língua japonesa.

Além disso, as relações diplomáticas com o Japão se romperam, ocasionando o fechamento do Consulado Geral do Japão.

O governo decretou ainda, a expulsão de japoneses residentes nas ruas Conde de Sarzedas e Estudantes. Em 1945, após a rendição do Japão, então a situação se normalizou.

Foi também com o fim da guerra que houve aumento da chegada de imigrantes japoneses ao Brasil e, consequentemente, espalhamento deles pela região.

Um cantinho do Japão no Brasil

Esse crescimento da presença de japoneses, principalmente em São Paulo e, mais especialmente no bairro Liberdade, contribuiu, naturalmente, para caracterizar o local como uma região de japoneses no Brasil.

Em 1946, foi fundado o primeiro jornal nipo-brasileiro que circulou no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, o São Paulo Shimbun.

Em 1949, foi inaugurada a Livraria Sol Taiyodo, que começou a importar livros japoneses para o Brasil. O estabelecimento funciona até hoje no bairro Liberdade.

Nos anos 1950 foi a vez do Cine Niterói ser inaugurado. O espaço comportava mais de 1.200 espectadores e exibia produções da indústria cinematográfica japonesa.

As sessões lotadas, com enormes filas para entrar no cinema. Tudo isso contribuiu para difundir a cultura da terra do sol nascente.

O Cine Niterói foi considerado uma peça chave na caracterização do bairro Liberdade como um bairro japonês e para fomentar uma rede de comércio na região. 

Prova disso é que a rua Galvão Bueno, onde o Cine Niterói era localizado, passou a ser conhecida como o centro do bairro japonês.

O logradouro era um grande atrativo para os japoneses pois ali eles podiam encontrar um cantinho da terra natal e matar as saudades.

A Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo fundou-se em 1955, para organizar as comemorações do Cinquentenário da Imigração Japonesa no Brasil.

Em 1964, foi inaugurado o prédio onde funciona a sociedade, na esquina das ruas São Joaquim e rua Galvão Bueno.

Bairro passa por mudanças

No fim dos anos 1960, o bairro começou a passar por mudanças. O Cine Niterói foi desapropriado e teve que mudar de endereço. A rua Conselheiro Furtado foi alargada e, já nos anos 1970, a Estação Liberdade, do metrô de São Paulo, foi construída.

Tudo isso ajudou a modernizar o bairro, mas também teve seus efeitos negativos, com o eventual fechamento de alguns estabelecimentos. A região também deixou de ser “exclusiva” dos japoneses.

Com as alterações, alguns deixaram de morar no bairro, decidindo manter apenas seus estabelecimentos comerciais. Coreanos, chineses e outros orientais começaram a buscar a região.

Por isso, hoje é comum que as pessoas se refiram ao Liberdade como “bairro oriental de São Paulo''. Mas a forte história e influência da presença dos japoneses na região ainda faz com que o bairro seja visto como o Japão no Brasil.

O que fazer no bairro liberdade

Lojas, bares, restaurantes e manifestações culturais são apenas alguns dos grandes atrativos do bairro Liberdade. O próprio visual do bairro, no estilo oriental, com lanternas japonesas, é um convite para passear por suas ruas.

A Praça da Liberdade e as ruas Galvão Bueno São Joaquim são pontos do bairro que mais dão a ideia da influência japonesa no bairro, atraindo muitos japoneses e nipo-brasileiros.

Nas ruas do bairro, é possível encontrar roupas, alimentos, bem como utensílios típicos da cultura japonesa, além das festas típicas celebradas.

Dentre elas, o Ano Novo Chinês, o Hanamatsuri (festival das flores), o Tanabata Matsuri (festival das estrelas) e o Toyo Matsuri (festival oriental), por exemplo.

Principais pontos turísticos

O Museu Histórico da Imigração Japonesa é sem dúvida um dos principais pontos turísticos do bairro. Ele fica localizado na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo.

No local, é possível conhecer a história, desde a chegada dos primeiros imigrantes até os acontecimentos mais recentes, através de um acervo que tem mais de 97 mil itens, dentre eles objetos pessoais, diários, pinturas, roupas, bem como documentos, doados por imigrantes e suas famílias.

O Palacete Conde de Sarzedas é também um dos pontos turísticos mais procurados do bairro. A história diz que ele foi construído pelo sobrinho do Conde de Sarzedas, entre 1891 e 1895, para representar seu amor pela futura esposa.

Por isso, o prédio, que se localiza na rua Conde de Sarzedas, também se chama Palacete do Amor. Atualmente, o local funciona como Museu do Tribunal da Justiça de São Paulo.

O bairro também conta com igrejas históricas como a de Santa Cruz das Almas dos Enforcados, na Praça da Liberdade, A Capela dos Aflitos, bem como a Paróquia Pessoal Nipo-Brasileira São Gonçalo são algumas delas.

Na região há também mercados, bem como empórios onde é possível comprar alimentos orientais advindos de importação. Também é possível, nas lojas, adquirir outros produtos orientais, como itens de decoração, roupas, eletrônicos e cosméticos.

Jardim oriental

Além disso, outro ponto imperdível é o Jardim Oriental, na rua Galvão Bueno. Com seu paisagismo, lago com carpas e símbolos tradicionais dos jardins orientais, o local é um ótimo para uma pequena fuga da urbanidade.

No Largo da Pólvora, um dos locais mais históricos do bairro, também é possível encontrar um jardim no estilo japonês, com plantas típicas do país, bem como lagos com carpas.

Os botecos, bares e restaurantes orientais também são grandes pontos turísticos, pois neles é possível saborear bebidas e pratos típicos da gastronomia japonesa e de demais países orientais.

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